sexta-feira, 20 de julho de 2012

• INSIDE •


Eu sei, eu me saboto, me entrego ao abismo, apenas pra sentir o vento no cabelo.
Sou fatalmente viva, cada dia quase caio, quase morro, quase sangro.. as vezes acontece. Há um animal enjaulado aqui, que luta com a força que lhe resta, que se debate, que não se rende. Há uma menina cansada e com poucos amigos, que um dia se contenta com a falta de escolha e aceita o que foi dado, o que lhe foi vendido à força.
Há dualidade, luta sem medalha. Há soco e ponta pé.
Aqui jaz todo engano e as vezes eu gosto disso.
Minha vida é feita de curativos e cicatrizes, já conheço a dor e sei o quanto é bom quando passa.. eu me arrasto pelo corredor, procurando um lugar mais calmo pra respirar, eu trago a fumaça e sinto meu corpo arrepiando com suas sensações. Observo o teto branco, vazio, penso em tudo ao meu redor e sinto o peso dos meus dedos, inertes, esperando uma mão pra entrelaçar. 
No meu mundo, na minha cabeça, nas minhas veias.. eu sei o quanto dói não saber lidar. Eu não sei, tenho medo de ser feliz e depois acordar despedaçada, mas eu vou, sempre voou. Esbarro em erros e acertos, ultrapasso o limite, bato e apanho na cara. A puta, a bruta, a vítima e a carrasca. Sou a vaca profana e a ultima esperança. Salvo e mato lentamente. Tenho veneno e antídoto, tenho cura e mal, tenho o que precisar. Enfio a adaga e giro lentamente. Dói, mas passa.
Não espero que me entendam, nem que me aprovem, exijo que me respeitem, quem quiser mastiga, degusta.. quem não puder, que engula a seco. Pra mim é assim, ou me ama ou me mantem longe. 
Se for amor, que seja dos pés a cabeça, que tenha paixão, doação.. pelo tempo que for possível.
Eu odeio o morno, o insosso, o incolor. Se é pra me levar, que me carregue, que entre e bagunce tudo, que quebre as regras e os horários, que me faça dormir tarde e me tire da cama com um convite à loucura.
Que tenha fogo, que seja meu dono e que me faça calar.
Preciso que me calem a boca, que me obriguem a escutar. Que me prenda, que me chacoalhe. Quero furação, cansei de ventania. Quero tempestade, cansei de calmaria.
Venha e abra a janela do meu quarto, deixa o sol me cegar e franzir minha testa.
Se for pra ficar, que mostre o porque, que seja minha unica opção.
Que me faça pedir mais, que me faça gemer, suspirar, perder o controle. Que me deixe sem ar, sem graça, sem fala.
Venha e me mostre o que tem de melhor, me surpreenda, me amordace, me enlouqueça. 
Eu quero tudo, quero que vá a fundo e faça o que ninguém fez. No final, me beije e acenda nosso cigarro.
É só isso, é simples. 
Troca de corpo comigo, entra na minha mente e sente o que eu sinto.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

A moça e o Doutor

Entrei no consultório 
Que papai me levou

Havia um sofá e um moço de doutor

Ele perguntou “como se sente?”

E eu disse que estava feliz
Que havia encontrado a moça que sempre quis.
Ele me olhou assuntado, dizendo estar errado
Não pude acreditar.
Disseram um dia que amar não era pecado
Agora vejo, meu Deus, que o Estado está errado.
Eu gosto de uma garota e ela gosta de mim
Andamos de mãos dadas e caminhamos pelo jardim
Já paguei meu imposto, não sou de alvoroço 
Trabalho e estudo, sim senhor
Me diga como posso estar errada, se em qualquer estrada, me esforço pra fazer o bem.
A gente ama a mãe, o pai e os bichos também, e porque quando amamos um semelhante, que nos deixa radiante, nos chamam de ignorantes e doentes sem querer?
Doutor, meu nome é Diferença, vim marcar presença e gritar pro mundo que sou viva e tenho um coração, ele pulsa e é sadio, ele ama, não é vadio, quer apenas o direito de ser. 
Mais pode um coração sincero, que uma política sem visão.. e digo mais, doutor, não volto mais aqui não, nessa fábrica de louco. Vou ali fora um pouco, vou ser feliz do meu jeito, com a minha opção.
Escolhi viver e vou vencer todo dia que eu acordar. 
Por mim, por você e por todo mundo que não crê que há amor enquanto pedem punição.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

• Carta-bomba-relógio •

Cheguei em casa, recolhi os envelopes embaixo da porta e atire-os no sofá. Coloquei Jethro Tull, acendi meu cigarro e comecei a abrir as correspondências.. banco, luz, telefone e um envelope em branco. 

"Bem, eu nunca fui muito boa em me expressar. A única coisa que sempre usei bem são as palavras, e mesmo assim me embolo muito às vezes. Existem coisas a serem ditas, coisas que penso há horas, dias, e até meses. Espero conseguir me expressar do jeito certo e quero, muito, que você consiga compreender tudo. E lógico, eu sei que você evita certas coisas por achar "melhor assim", mas eu não quero nenhum desentendido. Qualquer coisa que você achar que entendeu errado ou simplesmente não entendeu, me conta que eu tento explicar de novo. Vou pedir pra, nem que seja só dessa vez, você não se fechar.
Eu concordo plenamente com você, em tudo. É um fato que é melhor não ter do que ter pela metade (ou menos dela, como você mesma disse). Nós somos intensas demais pra suportar isso. Mas um fato maior do que qualquer questão racional é que eu sinto sua falta, penso em você o tempo todo, e nada mudou nisso tudo pra mim.
Você ainda tem tudo aqui. Quero deixar isso claro. Não acabou, e pra mim nunca vai acabar. O seu colo sempre vai ser o meu refúgio, minha segurança. Meus sonhos sempre vão te envolver, e você vai ser sempre a minha melhor amiga, a pessoa com quem eu escolhi compartilhar a minha vida. Isso não morre tão fácil, e acho que talvez nunca morra. Mesmo daqui a vinte, trinta anos, eu ainda vou te olhar com a mesma paixão, a mesma admiração e a mesma segurança. Pode até ser que o namoro acabe aqui, mas pra mim "namoro" é só um status. Noites como ontem, em que eu tive a liberdade de "estar" com você de certa forma, e poder assumir livremente o quanto eu gostaria de estar com você sem aspas, mostram isso.
Ah... Eu não quero que você pense que escondendo as coisas você vai me fazer melhor. Eu sou uma criança perdida, preciso de direção. Se você faz de conta que tá enterrando tudo pra me fazer esquecer, seria como girar a faca na ferida. Se não podemos ficar juntas, tudo bem. Eu posso suportar o mundo se eu souber que você está aí, no mínimo desejando o mesmo que eu, ou algo parecido, sei lá. Eu não seria capaz de seguir a minha vida bem e feliz, tendo aquela esperança de que "o próximo vai ser melhor, vai dar certo". Sempre funcionou assim pra mim, mas dessa vez não tá fluindo dessa forma. Eu não quero me afastar de você nem do que a gente tem, não quero perder nem uma gota disso. Acho a nossa relação a coisa mais linda desse mundo. E quero, sim, que você me procure sempre que precisar. Seja pra me contar de uma festa, de um porre, pra dizer que conheceu outra pessoa, ou que tá sentindo minha falta e me quer por perto. Não fica se privando da vida, nem das coisas que você sente. Sofrer e ser frágil é absolutamente normal, e você não precisa passar por isso sozinha.
E pra mim, é um soco muito bem dado no maxilar você ter a sensação de que está sozinha. Não pretendo deixar isso acontecer, nunca mais. Nem te deixar acreditar que não é importante ou necessária. Você é, e como eu disse, não é só pra mim. Mas como antes eu falei das outras pessoas, agora falo de mim mesma. Você mudou tudo aqui, sabe? Me fez ser uma pessoa que eu nunca acreditei que eu teria a capacidade de ser, uma pessoa completa. E eu falo por mim mesma, você me apresentou um lado de mim que era o que faltava. Te devo isso. Agora cabe a mim manter esse lado vivo, e eu vou me esforçar o máximo pra conseguir. É uma promessa.
Eu não vou seguir nem um passo sem você, okay? Te trago dentro de mim, sempre. Posso sair com outras pessoas, até beijar outras pessoas nesse tempo que estamos passando, ou sei lá se é realmente só um tempo, espero que seja. Mas não sei imaginar outras mãos me tocando, outro cheiro, outro corpo. Não tenho a menor pretensão de me ligar a nenhuma outra pessoa. Posso usá-las pra me divertir e distrair, isso é um péssimo hábito meu. Mas o seu lugar ninguém toma. E não quero que você se prive de nada, não por mim. Faça o que der vontade, me conte se quiser. Lógico, eu vou me corroer em ciúmes. Mas preciso aprender a lidar, melhor do que um dia te ver com outra pessoa e surtar tudo de uma vez só.
Sinto que se as coisas acabarem por aqui, eu vou virar mãe solteira. Mas prometo parar de fumar assim mesmo, tá bom? =]

Acho que é isso. E se não for, é mesmo melhor eu parar antes que isso vire um livro.
Fica bem. E tenta ficar viva, certo?
Amo você."


Esqueci o cigarro na boca e senti a cabeça esvaziar. Eu me importava com ela, mesmo sabendo que nunca daríamos certo juntas. Éramos iguais, respondíamos imediatamente aos nossos instintos animais. Se fosse pra morrer, morríamos sem medo do depois, se alguém nos atraísse, não voltaríamos para casa sem ter descoberto o sabor do beijo, éramos boas demais para ficar juntas. Eu a deixei ir, porque não se pode aprisionar pássaros por muito tempo, não pássaros como nós.
Na verdade, não sei nem quem eu sou, mas sei que nada pode me prender.